A especialidade em Medicina de Família e Comunidade é fundamental para garantir um atendimento contínuo e integral ao paciente, abrangendo desde a prevenção até o tratamento de doenças crônicas. Esse cuidado é personalizado, levando em consideração o contexto social, familiar e cultural dos pacientes. Os médicos de família atuam em diversos níveis de atenção à saúde, sendo peças-chave na promoção da saúde, educação em saúde e na coordenação de cuidados, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), onde desempenham um papel essencial na organização e gestão das redes de atenção. Durante o programa Fala Você Notícias, nesta terça-feira (24), a Dra. Isnaya Teixeira, médica de família, coordenadora da especialização medicina de família residente, destacou a importância do médico de família e comunidade na assistência à saúde pública.
A Dra. Isnaya relembrou que, antigamente, havia o médico da família, que fazia o parto, cuidava de apendicites, tratava problemas de garganta e realizava todo o acompanhamento necessário. Ela afirmou que a Medicina de Família e Comunidade resgata esse papel, sendo um médico que cuida das pessoas independentemente do problema de saúde, gênero ou idade, estabelecendo um vínculo próximo e contínuo, desde crianças até idosos.
O diferencial desse profissional é a abordagem integral. O médico de família não cuida apenas de um órgão específico ou de um indivíduo isoladamente, mas sim da pessoa e de sua família no contexto da saúde pública, estendendo o cuidado à comunidade. Dra. Isnaya ressaltou que, no setor privado, muitos planos de saúde já oferecem esse serviço, incluindo visitas domiciliares. No entanto, na saúde pública, a maioria dos médicos de família e comunidade atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), proporcionando um cuidado holístico e qualificado.
Um dos atributos essenciais do médico de família e comunidade é a continuidade do cuidado, ou seja, o acompanhamento da saúde ao longo da vida. Estudos indicam que a presença contínua de um médico numa UBS resulta em maior resolutividade, comparado à rotatividade de profissionais, mesmo que experientes.
Dra. Isnaya citou como exemplo um grande número de casos de sífilis identificados no ano anterior, principalmente em mulheres grávidas durante o pré-natal. Diante disso, foram promovidas atividades educativas na comunidade, envolvendo homens e mulheres, para reduzir a incidência da doença. Este ano, a equipe se deparou com um aumento significativo de gravidezes na adolescência, o que motivou a criação de projetos de conscientização em escolas e comunidades, como o Residencial das Árvores.
A médica também destacou que, apesar da importância da especialidade, o médico de família ainda é pouco reconhecido como especialista. Ela mencionou que, desde 2019, Guanambi conta com um programa de residência em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, mas que tem enfrentado dificuldades para atrair novos profissionais. A baixa remuneração e a precariedade dos vínculos empregatícios tornam a especialidade menos atrativa para recém-formados, que optam por outras áreas mais bem remuneradas. Em um concurso público recente, por exemplo, não foi aberta sequer uma vaga para médico de família e comunidade, o que ela classificou como "triste", considerando a presença do programa de residência na cidade.
A Dra. Isnaya enfatizou que o médico de família e comunidade conhece não apenas os problemas de saúde dos indivíduos, mas também seus contextos sociais, culturais e educacionais, sendo capaz de propor mudanças em políticas públicas que envolvem outros setores para melhorar a qualidade de vida e a saúde da população.
Outro diferencial é a abordagem centrada na pessoa, com 100% do atendimento baseado nesse método. Ao receber um paciente, a médica sempre pergunta o que ele sabe sobre seu problema de saúde. Isso ajuda a construir um cuidado compartilhado, no qual o paciente entende as recomendações e concorda com elas, levando em consideração fatores como o poder aquisitivo e a prontidão para seguir determinados tratamentos, como o uso de insulina.
Uma das grandes vantagens do médico de família é a não fragmentação do cuidado. Por exemplo, se uma paciente em pré-natal tiver um problema de pele ou estiver gripada, o médico de família trata essas questões, acompanhando a pessoa ao longo da vida e construindo uma relação de confiança e cuidado contínuo.
Com o crescimento da especialidade, os médicos de família têm desempenhado um papel crucial na redução das desigualdades, levando cuidados médicos a áreas antes desassistidas, como distritos indígenas, comunidades quilombolas, periferias e regiões de difícil acesso. A qualificação desses profissionais, por meio da residência médica e especializações, tem promovido maior acesso à atenção primária de qualidade.
Para fortalecer a Medicina de Família e Comunidade no Brasil, Dra. Isnaya defende a propagação da especialidade e o fortalecimento de políticas públicas voltadas para a captação de novos profissionais. Embora o país tenha programas como o Mais Médicos e o Médicos pelo Brasil, ela afirma que esses programas não têm sido eficazes em atrair médicos de família. O Mais Médicos, por exemplo, permite a atuação de profissionais sem a revalidação do diploma, deixando de lado a especialização em Medicina de Família e Comunidade, o que compromete a qualidade do cuidado oferecido.
Clique no vídeo e confira o bate-papo completo com a Dra. Isnaya Teixeira.
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