Como lidar com o luto; por Daniel Neres, psicólogo

O especialista esclareceu que o luto é um processo inerente ao ser humano diante de um momento de perda.

Neide Lu, jornalista, e Daniel Neres, psicólogo com abordagem ACP.

No programa "Fala Você Notícias" desta sexta-feira (19), Neide Lu papeou com Daniel Neres, psicólogo clínico especializado na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Durante o bate-papo, Neres compartilhou suas perspectivas e conhecimentos valiosos sobre o processo do luto, abordando tanto os aspectos emocionais quanto psicológicos dessa experiência universal.

O processo do luto

O especialista esclareceu que o luto é um processo inerente ao ser humano diante de um momento de perda. Ele explicou que, historicamente, a morte era vista como algo natural. No entanto, com o avanço da tecnologia e da ciência, a expectativa de vida aumentou significativamente. Apesar desses avanços, a humanidade não conseguiu impedir a morte, o que gerou uma frustração e transformou a morte em um tabu. "As pessoas evitam falar sobre a morte e criam barreiras emocionais para não imaginar que isso pode acontecer com elas", comentou Neres.

Fases do luto

Neres detalhou as fases do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na fase da negação, a pessoa finge que a perda não aconteceu. Quando a realidade da perda é aceita, surge a raiva e os questionamentos: "Por que aconteceu comigo?". A barganha geralmente está ligada à religião, onde a pessoa tenta encontrar um sentido. Essas fases podem ser vividas de forma intercalada ou simultânea. "Participar de rituais como velórios pode ajudar a lidar melhor com a perda, diminuindo a chance de um luto problemático", explicou o psicólogo. A falta de elaboração do luto pode levar a uma depressão ou luto prolongado, necessitando da ajuda de um psicólogo.

Luto complicado

Neres destacou o conceito de luto complicado: "Quando a pessoa não se permite sentir ou elaborar a perda". Ele citou o exemplo de uma mãe que perde um filho e mantém o quarto do filho intacto. "Agarrar-se à dor impede que a vida faça sentido", disse ele. Neres ressaltou que, embora inicialmente comum, essa atitude pode se tornar problemática a longo prazo se a pessoa não aceitar a perda.

Influência cultural no luto

O psicólogo explicou como diferentes culturas lidam com o luto. Na Índia, por exemplo, acreditam que os mortos vão direto para o céu e são cremados, exceto em casos específicos como gravidez ou certas doenças. "Os corpos não cremados ficam em volta do rio, enrolados em tecidos e secando, enquanto as pessoas usam a mesma água para se purificar", descreveu Neres. No Brasil, muitas vezes, as pessoas evitam ver um caixão por medo ou obrigação social de comparecer ao velório.

Daniel Neres psicólogo e Neide Lu jornalista.

A religião e o luto

Durante o bate-papo, um ouvinte perguntou se Neres acreditava em céu e inferno. Ele respondeu que a religião pode ajudar as pessoas a atravessar o luto, pois oferece algo em que se agarrar durante momentos de desespero. "Acreditar em um céu traz paz, enquanto a crença no inferno pode impedir as pessoas de viverem plenamente, por medo de punição", explicou Neres.

Questões religiosas em consultório

Ao ser questionado sobre como lida com a questão religiosa em consultório, Neres respondeu que respeita todas as crenças, pois cada pessoa encontra sua forma de lidar com a vida e a morte. "Minha abordagem é centrada na pessoa, então olho o paciente como ele é", afirmou.

Tempo do luto

Neres explicou que não há um tempo determinado para viver o luto. Algumas pessoas sofrem por um período breve, enquanto outras continuam sofrendo, mas conseguem seguir com a vida. Ele destacou que julgamentos sobre a forma como alguém lida com o luto, como ir a festas ou postar fotos de um ente querido, são comuns, mas cada um encontra sua maneira de enfrentar a dor.

O luto nas crianças

Sobre como as crianças lidam com o luto, Neres disse que elas começam a compreender e sentir o luto por volta dos 9 anos de idade. Ele enfatizou a importância de falar a verdade às crianças sobre a morte, mesmo que de forma simplificada, para evitar revoltas futuras causadas por mentiras comuns, como dizer que a pessoa foi fazer uma viagem ou virou uma estrela.

Estratégias para lidar com o luto

Uma das principais estratégias para lidar com o luto, segundo Neres, é se permitir sofrer. "Ao passar pela dor, a pessoa encontra sua maneira de alívio", disse ele. O contato com outras pessoas durante o luto pode aumentar a produção de oxitocina, o hormônio do amor, ajudando no processo de cura. Vícios, como o alcoolismo, podem ser válvulas de escape disfuncionais quando o luto não é elaborado adequadamente.

Redes sociais e o luto

Em relação às redes sociais, Neres afirmou que podem ser benéficas ou prejudiciais, dependendo do uso. "É importante avaliar por que e quanto tempo a pessoa está nas redes sociais, pois o uso excessivo pode aumentar a ansiedade e o sentimento de frustração", alertou.

Neres concluiu que cada pessoa encontra uma forma única de aliviar a dor do luto. "O que faz sentido para uma pessoa pode não fazer para outra. A expressão artística, como música ou desenho, pode ser uma forma de fuga e alívio da dor", finalizou o psicólogo.

Clique no vídeo abaixo para assistir o bate-papo completo com o psicólogo Daniel Neres no "Fala Você Notícias", onde ele compartilha valiosos insights sobre o processo do luto, suas fases e como diferentes culturas e crenças lidam com a perda.

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